Desafios para a formação de surdos no Brasil

Consoante preconizou Paulo Freire, "se a educação sozinha não muda a sociedade, sem ela, tampouco a sociedade muda". Frente à assertiva do expoente da conjuntura educacional brasileira, evidencia-se que, no mundo pós-moderno, o viés da educação se estabelece como um notório instrumento de mudança social. Todavia, do ponto de vista da inclusão - sobretudo, no que tange ao deficientes auditivos -, fazem-se vigentes, no contexto brasileiro, diversas mazelas. Haja vista um passado historicamente excludente e elitista, os indivíduos dotados da surdez imergem-se em um meio educacional altamente estigmatizado, enfrentando inúmeros desafios. Logo, torna-se pertinente o questionamento acerca do preconceito secular. Mais: quais os desafios vivenciados?
As motivações que fundamentam a vigência das vicissitudes referentes à formação satisfatória dos surdos, no Brasil, têm reflexos históricos e sociais, bem como sofrem ressignificações com o perpassar dos anos. A visão estigmatizada e preconceituoso que permeia a mentalidade contemporânea faz-se presente desde a Grécia Antiga: os espartanos - embasados em um modelo corpóreo ideal - assassinavam todos os indivíduos contrários fisicamente à lógica dominante. Na contemporaneidade brasileira, conquanto não seja efetivada de maneira explícita, como em Esparta, a falta de alteridade, no tocante à inclusão dos deficientes, impacta um dos pilares mais importantes: a educação. Em uma espécie de oposição à lógica de Rawls, que apregoa que se deve fornecer díspares condições aos diferentes, há a carência de uma infraestrutura especializada para a efetivação de um ensino inclusivo.
Ademais, como consequências direitas de uma realidade insuficiente, inúmeras mazelas encontram-se latentes hodienamente, impactando o individual e o coletivo da sociedade. Conforme versou o antropólogo Darcy, "o Brasil possui uma perversidade intrínseca". Nesse prisma, a nível educacional, embora sejam efetivadas certas conquintas, como a Língua Brasileira de Sinais, a qual permitiu o aperfeiçoamento comunicativo, o arcabouço político carece de profissionais e de estruturas físicas adequadas, fruto de uma herança brasileira. Nessa mentalidade, os deficientes auditivos se inserem em um processo exponencial de marginalização, encontrando diversos empecilhos para o alcance do trabalho formal, como reflexo de uma base educacional precária, assim como têm os seus direitos constitucionais desrespeitados. A fim de atenuar esse quadro, urgem-se, pois, mudanças.
A formação educacional dos surdos, no Brasil, por conseguinte, encontra-se impactada negativamente, tendo em vista um passado histórico excludente, engendrando diversas vicissitudes. Ao se contemplar a alteração dessa realidade, compete, no trabalho social, ao Terceiro Setor - por meio midiático - a realização de palestras e campanhas que difundam o sentimento de alteridade e a importância da inclusão educacional dos deficientes auditivos, a fim de que a sociedade se torne menos estigmatizada. Outrossim, compete ao governo a realização do aperfeiçoamento quanti e qualitativo da aprendizagem inclusiva, ampliando as possibilidades do acesso ao trabalho formal. Quem sabe, com isso, o viés educacional seja utilizado como instrumento de mudança, como disse Paulo Freire.

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